Janones e a ‘rachadinha’: o teatro da impunidade na política brasileira
Deputado fecha acordo milionário com a PGR e escapa de punição judicial

A política brasileira ganhou mais um capítulo de impunidade explícita: o deputado federal André Janones (Avante-MG) admitiu envolvimento em um esquema de rachadinha e, como "punição", se comprometeu a devolver R$ 131,5 mil aos cofres públicos, além de pagar uma multa de R$ 26,3 mil. O acordo foi firmado com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para evitar um processo criminal, consolidando mais uma vez a lógica perversa do "rouba, mas devolve".
Confissão e acordo com a PGR
No acordo de não persecução penal, Janones confessou que utilizou um cartão de crédito de um assessor para pagar despesas pessoais entre 2019 e 2020. O parlamentar nunca reembolsou os valores, prática típica de rachadinha, onde assessores são coagidos a entregar parte de seus salários aos políticos que os nomeiam.
Para selar o acordo, Janones aceitou devolver o dinheiro em 13 parcelas, sendo R$ 80 mil pagos à vista e o restante em mensalidades de R$ 6.484,48. A homologação do acordo agora depende do Supremo Tribunal Federal (STF).
Da negação à confissão: a farsa desmontada
Antes da revelação dos áudios que escancararam o esquema, Janones negava qualquer envolvimento em irregularidades. Em novembro de 2023, o portal Metrópoles divulgou gravações onde o deputado orientava assessores a repassar parte dos salários para cobrir dívidas de campanha.
Nas conversas, Janones afirmava que devia R$ 675 mil de sua tentativa frustrada de se eleger prefeito de Ituiutaba (MG) em 2016 e que a equipe deveria ajudar a "sanar o problema". Mesmo após a repercussão do escândalo, a Câmara dos Deputados arquivou, por 12 votos a 5, um pedido de cassação contra ele.
Sistema podre e impunidade seletiva
O caso expõe mais uma vez o pacto de autoproteção da classe política brasileira. Em vez de enfrentar uma ação criminal e possível perda do mandato, Janones fechou um acordo conveniente: devolve parte do que desviou, paga uma multa simbólica e segue no cargo sem grandes consequências.
É a mesma fórmula de sempre: políticos flagrados em esquemas de corrupção se safam com acordos que jamais seriam oferecidos a um cidadão comum. Enquanto milhares de brasileiros enfrentam prisões superlotadas por crimes menores, parlamentares seguem blindados pelas brechas jurídicas e pelo corporativismo institucional.
Janones: de moralista das redes à realidade política
Conhecido por seu tom agressivo contra adversários políticos nas redes sociais, Janones construiu uma imagem de "defensor do povo" e se aliou a movimentos progressistas. No entanto, o episódio da rachadinha revelou que sua retórica não se traduziu em práticas éticas.
Ao aceitar o acordo, Janones admitiu que é mais um dentro da engrenagem do fisiologismo político brasileiro, um sistema que consome dinheiro público para financiar luxos privados e se protege contra qualquer forma de responsabilização efetiva.
E agora, Brasil?
O caso Janones é apenas mais um entre tantos que se acumulam na política nacional, sempre com o mesmo desfecho: acordos vantajosos, arquivamento de processos e a perpetuação da impunidade.
Se nada mudar, o eleitor brasileiro continuará refém de um sistema que pune quem não tem poder, mas protege quem legisla em causa própria.
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