Silêncio Mortal: Detento desaparecido há 3 meses é achado enterrado ao lado de horta em presídio do ES
Crime brutal no Complexo de Xuri revela trama de vingança, silêncio cúmplice e falhas alarmantes no sistema prisional capixaba

Um crime de extrema frieza chocou o Espírito Santo neste fim de semana: o corpo de Ademar da Silva Capaz, detento do regime semiaberto que estava desaparecido há quase três meses, foi encontrado enterrado próximo a uma horta no Complexo Prisional de Xuri, em Vila Velha. A descoberta ocorreu no sábado (5), após uma denúncia anônima e a ação da equipe K9 do Corpo de Bombeiros, com cães farejadores especializados em localizar cadáveres.
Ademar foi morto com um único golpe na cabeça, possivelmente com uma ferramenta de trabalho da horta, e enterrado a cerca de 500 metros do local onde costumava atuar, próximo a um pé de jaca. A brutalidade do crime, somada à naturalidade com que tudo foi encoberto, revela uma realidade sombria por trás dos muros da penitenciária: vidas descartadas, silêncios comprados e uma rede de omissão que permite que mortes passem despercebidas.
No sistema penitenciário, Ademar foi oficialmente dado como "evadido" no dia 20 de janeiro deste ano. Mas a verdade era muito mais macabra. Ele já estava morto, enterrado dentro do próprio complexo onde deveria cumprir pena — e teoricamente sob vigilância constante. O corpo só foi localizado após o subsecretário de Administração Penitenciária, Nelson Rodrigo Pereira Merçon, determinar a apuração imediata de uma denúncia alarmante sobre a existência de um cadáver próximo à horta.
Discussão banal, morte brutal
A motivação do crime remonta a uma discussão aparentemente trivial: no dia 17 de janeiro, Ademar teria entornado suco sobre uma mesa e se recusado a limpar. O gesto enfureceu o colega de cela e também parceiro na horta, Jurandir de Oliveira Freitas, também do regime semiaberto. Três dias depois, por volta das 9h30, Jurandir teria matado Ademar com um único golpe na cabeça, usando uma das ferramentas agrícolas. O assassinato teria ocorrido ao lado de um pé de aipim.
Segundo depoimentos, Jurandir colocou o corpo em um carrinho de mão, transportou-o pela mata até uma área próxima a um pé de jaca e o enterrou. Tudo isso durante o horário de trabalho, sem que ninguém soasse o alarme. Uma operação meticulosa e cruel, digna de quem sabia que o silêncio seria garantido.
A trama revelada pelos próprios detentos
Durante as investigações, alguns presos foram ouvidos, entre eles Alan Mudesto Lopes e José Lopes Filho. Alan foi quem quebrou o silêncio e revelou detalhes estarrecedores: confirmou a execução pelas mãos de Jurandir e descreveu com precisão como o corpo foi enterrado. A frieza dos relatos impressionou até mesmo os agentes mais experientes.
Jurandir, segundo testemunhas, planejou cada passo. No dia do crime, saiu carregando ferramentas alegando que iria consertar uma cerca — cavadeira, enxadão e um carrinho de mão. Demorou cerca de 1h30 para retornar, tempo suficiente para executar, enterrar e limpar os rastros.
Justiça em xeque, sociedade em alerta
O caso reacende o debate sobre a fragilidade do sistema penitenciário brasileiro, especialmente no regime semiaberto, onde detentos saem para trabalhar e retornam à noite. Em Xuri, essa “liberdade controlada” se revelou uma armadilha mortal.
Como um preso pode desaparecer por três meses dentro do sistema, sem que haja qualquer esforço real para encontrá-lo? Como um corpo pode ser enterrado no terreno do presídio, a metros da horta, e só ser descoberto por denúncia externa?
A resposta que ainda não veio
Até o momento, a Polícia Civil não divulgou detalhes sobre a prisão do suspeito ou eventuais novas diligências. A área foi isolada, periciada e o corpo removido para os procedimentos legais. Agora, cabe às autoridades responder: quem se beneficiou do silêncio? Quantos mais podem estar enterrados sob o solo da negligência?
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