Governo do ES Convoca 650 Novos Soldados da PM: Reforço Urgente ou Apenas Uma Resposta ao Caos?
O aumento do efetivo policial é essencial, mas é preciso mais do que isso para enfrentar o crime de forma eficaz nas ruas do Espírito Santo.

O Governo do Espírito Santo anunciou nesta sexta-feira (28) a convocação de 650 aprovados no concurso de 2022 para ingressarem no curso de formação de soldados da Polícia Militar. Esta medida vem em um momento crítico, diante da crescente onda de ataques em Vitória, onde facções criminosas desafiam a capacidade de resposta das forças de segurança. No entanto, a ampliação do efetivo da PM pode não ser a única solução para o caos nas ruas da capital capixaba.
Este é o terceiro contingente convocado pelo governo desde o início de 2024, totalizando 2.650 novos soldados até 2026. O movimento visa, segundo o governador em exercício Ricardo Ferraço, aumentar a presença policial nas ruas e fortalecer a segurança pública, especialmente após os ataques violentos contra viaturas da PM e incêndios em ônibus, episódios que colocaram a população em estado de alerta. No entanto, surge uma reflexão crucial: será que aumentar o número de policiais nas ruas é a única resposta eficaz para combater a violência?
Embora o aumento do efetivo da Polícia Militar seja um passo importante, é preciso compreender que a solução para o combate ao crime vai além da simples presença de soldados nas ruas. É essencial que o Governo do Estado também invista de forma significativa na Polícia Civil, responsável pelo trabalho investigativo que é a espinha dorsal do enfrentamento da criminalidade de forma eficaz.
A importância das polícias investigativas
A Polícia Civil tem um papel fundamental no desmantelamento de organizações criminosas, que são as verdadeiras responsáveis pela violência crescente no estado. Enquanto a PM age no patrulhamento e na repressão imediata aos crimes, a Polícia Civil deve atuar de forma estratégica na investigação profunda. Esse trabalho envolve a coleta de provas, a realização de vigilâncias, a condução de entrevistas com testemunhas e suspeitos, e a elaboração de relatórios detalhados sobre as investigações em andamento.
Além disso, cabe à Polícia Civil identificar e capturar criminosos, identificar redes de tráfico de drogas e desvendar os crimes organizados que aterrorizam a população. Sem um trabalho investigativo bem estruturado, o combate à criminalidade torna-se limitado e superficial, resultando em ações pontuais que não atacam a raiz do problema. Em outras palavras, a segurança pública não pode ser vista como um jogo de números de policiais, mas sim como uma rede de forças de segurança que trabalham em sintonia para identificar, prender e desarticular as facções criminosas de forma definitiva.
O cenário que exige mais do que medidas paliativas
Os ataques em Vitória, com seus alvos em viaturas e coletivos, são um claro sinal de que o crime não está apenas nas ruas, mas nas estruturas das organizações criminosas que operam com poder e organização. Por isso, a simples convocação de novos soldados pode não ser suficiente para restaurar a paz nas ruas e para evitar que esse ciclo de violência continue se repetindo.
Embora o reforço policial seja uma medida necessária e urgente, a verdadeira mudança na segurança pública do Espírito Santo depende de uma atuação integrada entre a Polícia Militar e a Polícia Civil. A resposta ao crime organizado não pode ser apenas no enfrentamento direto nas ruas. Ela deve ser construída com base na inteligência policial, na investigação meticulosa e na atuação preventiva.
A decisão de convocar mais 650 soldados pode ser vista como uma tentativa de responder rapidamente aos ataques, mas é vital que o governo olhe para além dessa resposta imediata. O fortalecimento das polícias investigativas deve ser igualmente urgente, para que o Espírito Santo não apenas enfrente os efeitos da violência, mas elimine suas causas e estruturas criminosas.
O tempo dirá se essa medida será suficiente para pacificar o estado, mas o que é claro é que a segurança pública exige mais do que soldados nas ruas — exige uma atuação coordenada e eficaz entre as forças de segurança que atue tanto na prevenção quanto na repressão ao crime, com inteligência e investigação de ponta.
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