Dário Lux
Mudança de perspectiva sobre a sexualidade feminina
Em muitos casos, a liberdade sexual que se prega para as mulheres ainda está ligada à erotização e à objetificação de seus corpos.

Essa mudança de perspectiva sobre a sexualidade feminina é resultado de um longo processo de desconstrução cultural e social. Nos anos 80 e 90, a ideia de que "sexo sem amor não tem valor" estava profundamente enraizada nas normas e expectativas sociais. Essa mentalidade estava fortemente ligada a uma visão moralista do sexo, onde as mulheres eram ensinadas a associar o prazer sexual ao amor romântico e ao compromisso. O sexo, para muitas, era visto como algo que deveria ser justificado por um vínculo emocional e, muitas vezes, até por uma ideia de pureza ou castidade.
No entanto, as últimas décadas testemunharam uma revolução em várias frentes – não só na maneira como vemos o sexo, mas também como percebemos as mulheres e seus direitos. O movimento feminista e as lutas por igualdade de gênero ajudaram a questionar essas normas rígidas. As mulheres começaram a exigir que sua sexualidade fosse reconhecida de forma autônoma, sem a necessidade de validação externa, seja por um relacionamento amoroso, seja por expectativas culturais que limitavam a liberdade de escolha.
Além disso, a revolução digital e o acesso mais amplo a informações também ajudaram a romper com muitos tabus. O sexo deixou de ser um tema só abordado de forma restritiva, e passou a ser discutido abertamente, com mais foco na liberdade individual e no prazer próprio. Hoje, muitas mulheres estão se empoderando para ver o sexo como uma forma legítima de autodescoberta e prazer, sem necessariamente depender de um amor romântico como um pré-requisito.
Essas mudanças também são reflexo da crescente aceitação de diferentes formas de sexualidade, incluindo relações casuais, exploração do prazer próprio e da masturbação, bem como a aceitação de diversas orientações sexuais. O fato de as mulheres estarem começando a se libertar do estigma de que o prazer sexual deve ser algo subordinado ao amor romântico é um grande avanço na busca pela autonomia sobre o próprio corpo e desejos.
Em resumo, o que mudou é que as mulheres, finalmente, têm o direito de viver sua sexualidade de maneira autêntica, sem serem forçadas a se encaixar em um molde que não corresponde às suas reais necessidades e desejos. A sexualidade deixou de ser uma obrigação moral e se transformou em um território de liberdade, onde o prazer é tão legítimo quanto qualquer outro aspecto da vida.
A Exploração e Erotização da Mulher:
Em muitos casos, a liberdade sexual que se prega para as mulheres ainda está ligada à erotização e à objetificação de seus corpos. Em uma sociedade patriarcal, a liberdade sexual não raramente se transforma em uma "liberdade" imposta pela mídia e pela indústria do entretenimento, onde a mulher é vista não como sujeito de sua própria sexualidade, mas como um objeto de desejo. Esse "novo" conceito de liberdade sexual muitas vezes gira em torno de uma visão superficial e consumista, transformando a mulher em uma mercadoria que precisa se adequar a padrões de beleza e comportamento sexual preestabelecidos.
Aqui, a mulher não é mais apenas a "dona" de sua sexualidade, mas sim uma peça de marketing que alimenta as expectativas masculinas. A "liberação" sexual, então, se torna uma faca de dois gumes: por um lado, ela conquista mais autonomia, mas por outro, ainda está sujeita a uma pressão para se encaixar nas normas sexuais masculinas.
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