Jota Silva
O Mercado da Fé: Quando o Evangelho se Torna um Negócio
Não se trata de condenar o sucesso ou a prosperidade, mas de questionar a inversão de valores

O que foi escrito hoje com certeza causará muita polêmica, mas precisa ser dito e comentado, porque são sinais de algo maior, ou seja, sinais da volta de Cristo.
Nos últimos anos, o cenário religioso tem passado por uma metamorfose preocupante. O que antes era um chamado divino, uma missão de resgate espiritual, agora se assemelha a um empreendimento altamente lucrativo. Pastores que antes se ajoelhavam para orar agora calculam lucros. Aqueles que pregavam sobre renúncia e entrega, hoje constroem impérios de luxo, explorando a fé de multidões sedentas por esperança.
O evangelho, que deveria ser uma mensagem de transformação e salvação, se tornou um produto de mercado, embalado em conferências caríssimas, cursos milagrosos e campanhas de prosperidade que cobram o ingresso do céu em suaves parcelas. Enquanto o povo busca sentido e direção, muitos líderes religiosos enxergam apenas números: quantidade de fiéis, arrecadações, doações milionárias. A fé virou moeda de troca, e os templos, verdadeiros palcos para espetáculos de marketing espiritual.
A palavra de Deus, outrora anunciada com paixão e verdade, agora é vendida como um ingresso para a prosperidade. E quem não pode pagar? Que fique à margem, excluído do reino prometido por aqueles que lucram em nome da fé. Os dízimos e ofertas, que deveriam sustentar a obra e ajudar os necessitados, muitas vezes se transformam em patrimônio pessoal, em mansões, aviões particulares e estilos de vida incompatíveis com a simplicidade do evangelho de Cristo.
Essa realidade já foi prevista nas Escrituras. Em 2 Timóteo 4:3-4, está escrito: "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas." Esse tempo já chegou. Muitos não buscam mais a verdade, mas sim mensagens que satisfaçam seus desejos terrenos. Pregadores se moldam a esse anseio, trocando a genuína Palavra por discursos motivacionais e promessas vazias de bênçãos materiais.
Mas onde fica a essência? Onde está a mensagem que fala de amor, justiça e compaixão? Em meio a megatemplos, shows pirotécnicos e discursos ensaiados, a essência do verdadeiro evangelho parece cada vez mais distante. O mercado da palavra cresce, mas a espiritualidade genuína se esvazia. O compromisso com Deus cede espaço à busca incessante por poder e influência.
Não se trata de condenar o sucesso ou a prosperidade, mas de questionar a inversão de valores. O evangelho sempre foi e sempre será sobre almas, não sobre cifrões. A verdadeira igreja não se mede pelo tamanho de sua arrecadação, mas pela transformação que causa na vida das pessoas. Quando a fé se torna um negócio, a salvação vira um produto – e o preço a se pagar pode ser mais alto do que imaginamos.
Afinal, quando foi que o altar se tornou balcão de negócios?
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